Crítica: Pobres Criaturas (2023)

Aviso: Crítica sem spoilers!


Filme é uma poesia gótica


Entre todos os longas do diretor romeno Yorgos Lanthimos, sua nova obra Pobres Criaturas despertou uma experiência satisfatória do autor que vos escreve este texto. Mas o que seria essa satisfação dita? Uma narrativa fantástica sendo muito bem executada.

Em Pobres Criaturas, a jovem Bella Baxter (Emma Stone) é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Querendo ver mais do mundo, ela foge com um advogado e viaja pelos continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella exige igualdade e libertação.

Em 'Pobres Criaturas', Emma Stone percorre jornada surrealista em busca de  humanidade no caos - Verso - Diário do Nordeste

Lanthimos empresa o estilo steampunk e se inspira no visual surrealista para trazer essa atmosfera de um mundo falho, porém, curioso para Bella Baxter, que acabou voltar a vida e está aprendendo ter consciência das suas escolhas. Nisso, a personagem começa seu arco de amadurecimento para deslumbrar esse mundo cheio de polidez.

Bella Baxter é uma mulher com um cérebro ainda em construção e ela é cercada de regras burocráticas que impedem dela se desenvolver como mulher e descobrir o prazer sexual, e com isso o longa apresenta três homens que representam algum tipo de relação humana na sua descoberta como paterna, amor e sexual. Godwin Baxter é o Victor Frankenstein de Bella, pois God trouxe ela de volta a vida e trata como sua obra de arte, entretanto o cientista aprisiona sua criação dentro da sua mansão para ficar longe dos perigosos do mundo. Isso é compreensível quando o longa utiliza no início o filtro preto e branco para simbolizar como a vida de Bella na mansão era extremamente morna e controlada, antes de conhecer o advogado Duncan Webberburn.

A interpretação de Willem Dafoe (Homem-Aranha) como Godwin Baxter lembra os clássicos cientistas malucos da leitura gótica, onde sua fascinação em se tornar um “deus” vira sua própria ruína. Tudo isso é transportado na ótima atuação de Dafoe, e seu personagem traz um trabalho de maquiagem notável. Quando Duncan aparece na narrativa, é o momento em que a jornada de Bella Baxter inicia, pois ela verá as belezas e feiuras do mundo e ainda precisa tentar se comportar em uma sociedade polidez.

Outro homem que entra na vida de Bella, é Max McCandless, vivido pelo carismático Ramy Youssef (Wish). Seu personagem é um dos únicos homens que sentem um sentimento de amor saudável pela Bella e não a trata como um objeto, diferente de Duncan que aproveita a infantilidade dela para virar seu boneco pessoal. É bom ver Mark Ruffalo (De Repente 30) voltando em alguma produção diferente que não seja um filme da Marvel, e provando que ele é um bom ator.

Emma Stone defende cenas de nudez e sexo em Pobres Criaturas | GZH

Agora podemos dedicar esse espaço para falar como é brilhante a performance de Emma Stone (La La Land), por desempenhar um papel difícil pelas questões que sua personagem enfrenta com decorrer da trama. Entra nessas questões como aprender falar, ser menos vulgar diante a pessoas e desenvolver seus pensamentos pessoais sobre uma sociedade tão delicada com seus próprios prazeres. Stone assume toda essa bagagem sem parecer uma atuação caricata que podia beirar ao ridículo.

Stone e Lanthimos desafiam essa sociedade mofada com as cenas de sexo (e são várias) que não estão ali para serem gratuitas, mas sim, tem uma função para Bella satisfazer seus instintos, e também fazer os personagens terem seu deleite consumido.

Existe um toque de expressionismo alemão no longa e um pouco da esquisitice da cinematografia de David Lynch, e Lanthimos não esconde essa inspiração. Isso fica evidente na sua estética e até nos personagens que lembram vagamente algum indivíduo do longa “O Gabinete do Dr. Caligari (1920)”, e é impressionante como autoral é o mundo steampunk que Lanthimos criou para abortar seus temas.


Veredito

Pobres Criaturas é uma poesia gótica. O longa aproveita sua narrativa fantasiosa para questionar o papel da mulher na sociedade, e a atuação brilhante de Emma Stone eleva a experiência digna de um surrealismo.

9/10

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