Crítica: O Último Animal (2023)

Aviso: Crítica sem spoilers!


Filme surpreende e é um dos melhores do cenário brasileiro dos últimos anos


Da mente de Leonel Vieira e uma produção estrangeira/nacional, o filme O Último Animal é um projeto que se sobressai aos outros brasileiros nos últimos anos. Embora pronto há alguns anos, o longa-metragem ganha projeção a partir desta quinta-feira (7) em todos os cinemas do país. E como é de praxe, o filme trata das comunidades do Rio de Janeiro algo mais profundo do que o espectador pode esperar.

O filme segue Didi, personagem de Junior Vieira que tenta levar uma vida honesta em uma favela no Rio. No entanto, ele conhece Alex, um inglês que oferece um emprego, mas que envolve o Jogo do Bicho, algo proibido no Brasil. Além disso, Didi é irmão de Calango, um líder do tráfico de drogas que está com problemas em sua comunidade. Por ser irmão de um chefe do tráfico, ele é sempre um alvo a ser questionado.

Crítica | O Último Animal

Este é um projeto passível de elogios, tanto por sua estruturação e roteiro quanto pelas camadas que ele aborda. Tratar a questão social no Brasil, especialmente nos grandes centros, é algo importante para o cinema nacional. Embora usando personagens fictícios, o filme aborda temáticas reais e uma crítica social que compete ao espectador saber qual lado está correto. É algo que em certos filmes falta. Um incremento a mais para interessar o público.

Ter a questão das favelas como foco principal do filme, as ações dos policiais e os poderosos de empresas que lavam dinheiro, são fatores que levam sucesso para esta obra. É muito positivo que o longa aborde a realidade de indivíduos dentro de uma comunidade, tentando sobreviver em meio ao tráfico, as balas perdidas e ao perigo do dia, usando mais da realidade nua e crua do país verde e amarelo. Um adendo a ser feito, ainda, é a relação do Jogo do Bicho, proibido no país, com os animais presentes no jogo de azar e os personagens na trama. É para prestar atenção.

Dificilmente, alguns filmes podem interessar quando ele costuma ter um narrador e intercalar para seguir seus personagens. Argylle – O Superespião tem isso. Ele tenta potencializar uma inovação na indústria, mas escorrega quando tenta utilizar essa ferramenta já conhecida, mas com um narrador onisciente. No entanto, em O Último Animal, a história é outra. O fato de ter o narrador personagem é o que cabe correto ao projeto, bem roteirizado e que não deixa pontas soltas. Seu tempo de duração é ainda a cereja do bolo, não tornando a trama apressada e cansativa. Ernesto Solis, Leonel Vieira e Leonardo Gudel acertam em cheio na construção de uma história que tem alma e sabe ser real quando quer.

Visão | "O Último Animal", de Leonel Vieira: O mundo entregue aos bichos

Além de uma história excelente, o elenco, também, é bem aproveitado. Não que deva ser dito do personagem Calango, que tem uma subtrama com um desfecho previsível e confuso. Há personagens deslocados que não têm futuro algum, o que incomoda, mas não tira o brilhantismo da obra. Uma das personagens jogadas para escanteio é Paulinha (Gabriela Moran), que tem um background interessantíssimo, mas acaba sendo aproveitada pouco no terceiro ato.

No entanto, as atuações de Junior Vieira e Duran Fultan Brown fogem dos padrões para um filme com cenário nacional. São ótimas e ambos representam bem seus papéis: o cara da favela que quer crescer, mas se vê em fogo cruzado e o gringo que se diz inocente, mas no fundo é pior que um criminoso. Joaquim de Almeida, que também é um protagonista, não chama tanto a atenção com seu personagem nada carismático e irritante.

Em resumo, O Último Animal é um dos melhores filmes estrangeiros em solo brasileiro dos últimos anos. É claro que era necessário um pouco de “garimpo” para que uma ou outra história de fundo fossem melhores, mas não estraga o bom desempenho de um projeto feito com alma e entendimento.


Veredito

O Último Animal é um filme surpreendente e inteligente, usando personagens fictícios para moldar uma obra totalmente baseada na realidade brasileira em muitas cidades. Com boas atuações e um roteiro competente, o longa é um dos melhores dos últimos anos.

9/10

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Gabriel Rodrigues Silveira http://critical-room.com/

Navego pelas águas misteriosas deste belo mundo do cinema, e procuro estabelecer todo o conteúdo possível, e mostrar os gostos de um jovem jornalista aspirante a cinéfilo. Mas, se perder a confiança em mim, confie nos outros integrantes do site.

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