
Aviso: Crítica sem spoilers!
Uma homenagem digna a Wes Craven.
Quando as franquias slasher como Halloween e Sexta-Feira 13 estavam perdendo seu brilho após os anos 1990, Wes Craven tentou recriar algo mais humano com Pânico. Diferentemente de Michael Myers, que mata por matar, ou de Jason que é imbatível, o assassino chamado Ghostface na franquia Pânico, é um humano normal e fissurado por filmes de terror. Sendo assim, é mais fácil de matá-lo, mas sempre dê um tiro na cabeça por garantia. Porém, com o primeiro filme lançado em 1996, e o segundo tendo um bom brilho, o terceiro e o quarto não estão tão na mente dos fãs. Na esperança de fazer um trabalho melhor que propriamente as sequência do original, os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet se reúnem para um quinto filme, que revisita o primeiro e mais celebrado entre os fãs.
Em um período de descrença aos fãs de terror, após Halloween Kills não atender muito às expectativas e ser um slasher compulsivo – o título diz tudo -, houve muito medo por parte de um novo Pânico. Há aqueles que diziam que seria um filme tão ruim quanto o terceiro, ou mesmo iria sofrer para decolar em um mistério não tão bom assim quanto o primeiro. Os diretores e roteiristas estão para provar aos descrentes que as críticas negativas antes de ver o filme não fazem sentido.
A nova parcela de Pânico se passa 25 anos após o original, tanto no filme em si, quanto na obra que motiva os assassinos. A história é a mesma de sempre, um maluco vestido de Ghostface sai às ruas pela noite para matar pessoas de um determinado grupo, e depois revelar sua identidade e tentar fazer um filme Facada muito melhor que os demais. Porém, desta vez, foi diferente. A trama segue um grupo de amigos que se une para apoiar Tara Carpenter (Jenna Ortega), que fora atacada pelo Ghostface e sobreviveu. Sabendo disso, sua irmã Sabrina retorna a Woodsboro para cuidar de sua irmã. Mas, claro, mal sabia ela que estava destinada a ser um alvo primário como Sidney Prescott (Neve Campbell) foi.
Assim como Halloween fez em 2018, Pânico tenta moldar um tipo de reboot não reboot, que ignora as sequência da época, e funciona como uma sequência direta do primeiro filme. Isto fortemente é citado no longa de Olpin e Gillet, mas para o filme Facada que os fãs de terror querem fazer. O próprio longa-metragem referencia obras como Halloween ou A Hora do Pesadelo, assim como cita diversos outros filmes de terror – até Caça-Fantasmas – e propriamente satiriza as sequências de sua franquia. O foco total é homenagear, ou melhor, revisitar o passado, unindo velhos e novos personagens. E é neste momento que entram Dewey Riley (David Arquette), Gale Weathers (Courteney Cox) e a scream queen Sidney Prescott (Neve Campbell). A forte presença dos originais faz com que os personagens fiquem mais “acomodados” do que deveriam estar.
Igualmente a Halloween (2018) e Halloween Kills, Pânico sabe introduzir novos personagens e conectar totalmente com o passado, especialmente da obra original. Naturalmente, ele se referencia, deixando as sequências de lado e sempre voltando ao primeiro filme. O bom mistério e suspense, que é a marca registrada da franquia, e os cortes de cenas as quais o espectador espera que Ghostface ataque o protagonista, quando abre a porta de uma geladeira e depois a fecha, tornam o longa tão atrativo e angustiante. Os roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick brincam com a ideia de que se você olhar para trás, o Ghostface estará ali. Não, não é Michael Myers, mas em certos momentos, ele realmente estará caso você olhe para trás.
O elenco com nomes de jovens atores como Dylan Minnette, Mikey Madison, e o astro de The Boys Jack Quaid, se sentem confortável, mesmo nunca tendo participado em um filme da franquia. Há personagens que ligam o passado ao presente, ou homenageiam alguém, como o de Minnette, de nome Wes, que homenageia o criador Wes Craven. Além disso, a introdução dos originais, e a dinâmica fluida destes – que por pouco tempo, mostraram que ainda são capazes -, dão uma carga mais emocional à história. De todos os outros, este quinto filme consegue ser tão suspensivo quanto dramático, trazendo um peso emocional válido, que fará os mais fanáticos irem às lágrimas. Porém, mesmo que os originais estejam de volta, o grande destaque fica para Melissa Barrera e Jack Quaid, que possuem interações claras, com diálogos competentes.
Os detalhes técnicos, aqui, também agradam, e muito, principalmente em sua fotografia ao estilo mais sombrio possível. Pânico não tenta imitar Halloween 2, com uma ambientação no hospital em um momento do filme, mas sim, faz isso de forma original e até mais interessante. Por sua vez, a violência de muitas facadas e sangue derramado – facadas que chegam a doer no espectador -, casam com os sustos e a trilha sonora, que emula o suspense slasher clássico. Brian Tyler, que acertou na composição de Escape Room, e havia trabalhado com os diretores em Casamento Sangrento, faz um ótimo trabalho em Pânico. Ele sabe que um personagem tão famoso quanto qualquer outro, precisa de um tema assustador e original, sem que precise se pendurar no tema original. E faz isso da melhor forma, tornando as faixas do quinto filme tão melhores e mais instigantes do que o restante da franquia. Sim, é o melhor tema que o personagem já teve, e a melhor composição da saga facilmente.
Por fim, Pânico apresenta uma revisitação que se fez necessária com o passar do tempo, por conta de um terceiro e quarto filme inferiores. Com um discurso que surpreende, ao criticar fandom de certas franquias, e também produções desgastadas de Hollywood, a nova parcela do terror slasher já é uma das surpresas mais agradáveis do ano. O novo longa abre oportunidade para uma sequência, mas se não houver, será um fechamento com chave de ouro.
Veredito
Pânico mistura originalidade com referências dos maiores clássicos de terror, e de sua obra original, para satisfazer os desejos dos fãs. Com um roteiro bem trabalhado e uma direção segura, o filme não comete deslizes bobos, e deixa o espectador satisfeito com o peso emocional que a volta dos originais traz. Misturando o velho ao novo, com boas surpresas e um ótimo mistério cheio de angústia, Pânico faz jus ao nome que tem, se tornando digno de ser uma obra-prima da franquia ao lado do primeiro.
10/10.