
Reprodução: Warner Bros
Aviso: Crítica sem spoilers!
A rapidez de um herói que está sempre atrasado.
Esforçado, rápido, dedicado, mas sempre atrasado. Esse é o resumo de Barry Allen em The Flash, que vive sua vida como perito criminal, assim como é nos quadrinhos. O filme vem para ser o fator decisivo do gênero de heróis: deve continuar com mais, explorando o lado nostálgico, ou mudar totalmente seu formato? Essa resposta é respondida da melhor forma possível em um projeto solo de mais de 2 horas de duração. Afinal, The Flash é bom ou não?
Como é feito em muitas críticas, é preciso recapitular como seria todo o projeto. Bagunçado, com vários diretores e roteiristas entrando e saindo como bem quisessem. Possivelmente não tinham a coragem necessária, visto que o personagem não é fácil de ser trabalhado. No entanto, Andy Muschietti aceitou o desafio e conseguiu unir Christina Hodson (Aves de Rapina) para escrever. Com nomes da própria Warner Bros, o estúdio começou a produção do filme mais conturbado da DC dos últimos tempos. Mas, a pandemia veio para atrapalhar bastante o andamento do projeto, que continuou após a queda de casos e liberações parciais para filmagens. Com todo esse tempo, a equipe garimpou e modelou o filme como bem entendessem.

E aqui o público se encontra, muitos anos depois com o lançamento do filme com o slogan de “o melhor desde Cavaleiro das Trevas” segundo alguns influenciadores emocionados. Não chega perto de ser o melhor, mas não está longe de ser ótimo. The Flash possui muitos acertos para poucos erros, e em sua maioria, é justamente sua parte técnica. Mas, isso não apaga o brilhantismo do raio no peito do herói, que tem seu background construído a partir de seus traumas.
O longa-metragem segue Barry, que vive sua vida de herói como Flash na liga da Justiça, e mantém sua parceria com o Batman. Mas, quando ele usa toda sua velocidade, Allen volta no tempo e acaba mudando o mundo e explorando o multiverso. Agora, General Zod volta a usar sua força total contra a Terra em busca de Superman, que caiu no planeta.
Tanto o cineasta quanto a roteirista, conseguem emular como deveria ser um filme de heróis poderosos, com socos potentes, corridas avassaladoras e o sentimento heroico. A trama consistente faz o público prender sua atenção, e os pequenos momentos tornam o filme cativante. Não há apenas ação ou drama, e sim, uma mistura de aventura com um pouco de comédia, como Indiana Jones.
As últimas produções têm sido sofríveis, com a falta da essência que os filmes de heróis deveriam ter, usando de artifícios dramáticos em arcos rasos e sem emoção. Há protagonistas sem personalidade, e personagens que não cativam com subtramas nada convincentes.
Em The Flash o caso é outro. O ator Ezra Miller está a vontade no papel, que foi amplamente melhorado após uma piada sem graça que foi em Liga da Justiça. Barry está muito mais maduro que na própria Liga da Justiça de Zack Snyder, e também, muito mais interessante. E claro, vale lembrar que ele esteve vivendo a versão alternativa que aparece no filme, e conseguiu ir do tom mais maduro para o cômico sem parecer forçado. O acerto do protagonista foi tão grande, explorando suas emoções, dramas e seu pessoal, que acabou respingando no Batman de Michael Keaton. O ator retorna triunfante com sua capa e capuz, em cenas de ação memoráveis e seu visual ainda mais nostálgico.
Embora os acertos sejam grandes, há erros, e em poucos personagens. Se Sasha Calle como Supergirl foi uma boa surpresa, Antje Traue como Faora apenas serviu para ser uma figurante. Nem mesmo Michael Shannon conseguiu retornar bem como General Zod. Sua volta é útil, mas não chega a ser memorável, juntamente com a participação de Kiersey Clemons de Iris West. Há pouco espaço novamente para ela neste filme, mas prepara o terreno para uma possível sequência. Por sua vez, Ben Affleck retorna como um Batman mais quadrinesco, sem que seu personagem seja distorcido como em Batman vs Superman ou Liga da Justiça (2017).
O terceiro ato do filme não é de total agrado. O arco de Supergirl funciona mais como um ponto para ligar tudo o que está acontecendo, sem ter uma profundidade ou desenvolvimento. A batalha final e sua conclusão destoam do que foi o filme todo em dois primeiros atos, mas o momento final até consegue amarrar as pontas soltas deixadas pelo persistente e atrasado Barry Allen.
Vale destacar a direção de Muschietti, totalmente segura e que executa muito bem o projeto. O diretor sabe o que está fazendo, e acrescentando o poder dos quadrinhos em um projeto audiovisual que rebusca a nostalgia como fator coadjuvante. As cenas de ação e corrida, bem como a perseguição com a bat-moto e toda a sequência, é muito bem dirigida. O dedo do cineasta foi o que torna o filme ainda mais especial nestes momentos. Além disso, a explicação coerente – e muito melhor que Ultimato – sobre viagem no tempo, abre portas para o futuro.
Outro adendo é a boa trilha sonora de Benjamin Wallfisch, que tem em sua carreira o filme Shazam!, onde produziu faixas sonoras esquecíveis.
Diferentemente das últimas produções da DC, The Flash abusou dos efeitos especiais, e claro, fica perceptível a falta de um toque final. Não é possível dar desculpas para momentos em que o CGI está ruim, pois toda a equipe de produção teve muito tempo! Mas, há frames em que o efeito é difícil de fazer, usando arquivos antigos, e totalmente compreensível que a restauração fica muito dificultosa. No entanto, não serve de desculpa para os erros grotescos em certos momentos. Fora isso, o filme é visualmente bonito, possuindo uma fotografia padrão – ou seja, não é ruim, mas também não é excelente.

Por fim, The Flash é uma amálgama de linhas interessantes, que se unem em um grande centro para que os pontos sejam ligados um a um até formar sua grande trama. Mesmo não sendo o maior filme da DC, é com certeza o maior evento do cinema para a editora, que agora abre mil e uma possibilidades após a descoberta do multiverso.
Veredito
The Flash consegue ser constante e coerente em sua proposta, com uma história ambiciosa que convence e nunca deixa de lado a tragédia do protagonista. Com a ótima atuação de Ezra Miller e Michael Keaton, a direção agradável de Andy Muschietti torna o longa-metragem um marco para a nova DC. Mesmo que o terceiro ato deslize no percurso, isso não impede que o filme seja divertido, sério e emocionante.
7,5/10.