
Aviso: Crítica sem spoilers!
Uma reflexão profunda acerca da violência e o que a motiva.
A violência se manifesta no nosso cotidiano de modo sintomático, em todas as esferas concebíveis: sociais, políticas, econômicas, educacionais e saúde. É uma questão tão enraizada em nós como sociedade e amplamente debatido, e é justamente esse debate que Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança, dirigido por Marcos Bernstein, com roteiro dele próprio em conjunto com Paulo Dimantas e Victor Atherino propõe.
Na trama, Carla (Claudia Abreu) é uma bem-sucedida advogada, com um casamento estável e uma filha amorosa. Sua vida vira de cabeça para baixo quando, em uma tentativa de assalto, sua filha é baleada e internada em estado grave. Com este evento traumático, Carla busca seguir a vida com terapia em grupo, que acaba apenas a frustrando mais. Não conseguindo aceitar a condição da filha e por falta de soluções por meios legais, sua busca rapidamente se converte em uma busca por vingança, decidindo testar seus limites e fazer justiça com as próprias mãos.
É importante dizer, antes de mais nada, que o longa é um estudo da violência, seus fatores e suas consequências. A direção de Marcos Bernstein tem sucesso ao criar uma atmosfera de tensão e extremo desamparo, por vezes até sufocante, embora possa cansar espectadores mais impacientes, por apresentar um ritmo lento e muito cauteloso. No entanto, a lentidão é bem aproveitada para desenvolver as personagens e trabalhar o tema de modo responsável, com tons de cinza e questionamentos pertinentes, além de abordar amplamente todas as facetas das quais a violência se mostra presente.
A personagem de Carla é uma pessoa quebrada e desamparada, refém dos próprios sentimentos vingativos incontroláveis. Como contraponto, temos Natália (Júlia Lemmertz), uma analista de um grupo de apoio de pessoas que sofreram grandes perdas e buscam um motivo para seguir em frente. As personagens são o oposto uma da outra e se complementam por terem passado por traumas semelhantes. Carla lida com a dor em negação e fúria, enquanto Natália tenta buscar uma razão no meio disso. O trabalho feito por ambas as atrizes é impecável, especialmente na sequência final.
O elenco conta com Claudia Abreu, Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, Cesar Mello e Marcos “Kikito” Juqueira. Todos os atores fazem um trabalho competente, mas o grande destaque vai para Claudia Abreu e Júlia Lemmertz, que vivem Carla e Natália, respectivamente.
Veredito
No geral, Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança apresenta reflexões importantíssimas, personagens críveis e relacionáveis, e funciona como um bom thriller redondinho e sem muitas brechas.
8/10.