
Aviso: Crítica sem spoilers!
James Gunn tem liberdade para fazer o que quiser em Pacificador.
Se John Ostrander e Kim Yale possuem grandes fãs, com certeza, James Gunn é um dos maiores deles. Os quadrinistas do Esquadrão Suicida nos anos 1980 e 1990, inspiraram o diretor a fazer O Esquadrão Suicida, filme muito elogiado pela crítica e público. Porém, o roteirista viu que poderia explorar ainda mais este meio, e trouxe o Pacificador de John Cena para estrelar sua própria série. O personagem muito contestado no filme, e ainda mais por fãs que não achavam que ele merecia uma série, tenta se redimir de suas ações e com o público. Coube a James Gunn mostrar o que o Pacificador podia fazer para garantir a paz que tanto deseja.
Após ser demitido pela Marvel Studios e contratado pela Warner Bros., Gunn parece estar muito à vontade com sua nova casa. Sem encontrar rixas entre as duas, ou mesmo, uma diferença criativa de estúdio, o cineasta pode fazer seu trabalho com total liberdade. Foi assim com O Esquadrão Suicida e também em Pacificador. Usando e abusando das artimanhas que ele mais entende, piadas sujas em bons momentos, tornar seu protagonista extrovertido e profundo, e desenvolver um antagonista com a política racista e preconceituosa no limite. O show funciona em dois lados. O primeiro é mostrar a redenção de um vigilante procurado pela polícia, e que matar “pessoas normais” sem razão alguma não é certo. Já o segundo lado, é mostrar o lado mais político, e em como as pessoas conseguem seguir líderes extremistas ou pessoas notáveis com opiniões fortes. Gunn trabalha muito bem o que lhe estava disponível desde seu filme de 2021.
A trama da série gira em torno do personagem-título, que volta para Evergreen após se recuperar do desabamento em Corto Maltese. Com isso, Christopher Smith quer descansar, e tenta garantir que não está sendo vigiado por ninguém para uma missão de salvar a pátria. É claro que isso não dá tão certo quanto ele imaginou, e é recrutado por Clemson Murn (Chukwudi Iwuji) para integrar uma equipe que conta com Emilia Harcourt (Jennifer Holland), John Economos (Steve Agee) e a novata Leota Adebayo (Danielle Brooks). Juntos, estes cinco, mais o intruso e amigo de Pacificador, Vigilante (Freddie Stroma), precisam descobrir e acabar com o Projeto Borboleta.
O roteiro de Gunn desenvolve por completo seu protagonista, e permite ainda mais profundidade em sua origem. Ele não é um personagem comum, com uma origem como a de Superman ou Batman. Ele foi ensinado a matar desde cedo, e recebeu ódio por parte de seu pai, Auggie Smith (Robert Patrick). Enquanto o espectador imergia na mente do Pacificador, também acompanhava as histórias de outros personagens, como Harcourt e Vigilante, que tiveram um foco maior após o protagonista. O bom roteiro permitiu uma interação fácil entre todos os personagens, sem deixar que um deles seja entediante ou esteja deslocado na história. Diferentemente de Mestre Judoca (Nhut Le), que parece estar perdido, bem como o ator, que não tem um desempenho regular, posterior ao primeiro episódio em que aparece.
Não é de hoje que a DC possui um bom elenco em suas séries. Trazendo nomes do filme de 2021 e novos atores, Gunn mostra ao espectador novas estrelas desconhecidas do público, como o caso de Annie Chang. A série permitiu um apoio imediato para a carreira de Cena, que é, sem dúvidas, o ator mais capacitado e carismático que veio do WWE. Seu trabalho em Pacificador é brilhante, conseguindo seguir a visão do diretor para com o personagem. Há momentos emocionantes no show que denotam o quão Cena levou este herói a sério. Não apenas cenas tocantes como Eagly – a águia do Pacificador – abraçando o protagonista, mas momentos engraçados e bem humorados, dando certa vergonha alheia ao espectador. Há, ainda mais, um coração pulsante de Gunn querendo ridicularizar a extrema-direita na série, com a presença do Dragão Branco, personagem extremamente detestável e a favor do nazismo. O show tenta criticar isso de várias formas, com cenas memoráveis ou frases que impactam o desprezo de pessoas com simpatizantes de um modelo político massacrante.
Visto que a série conseguiu manter uma solidez indescritível com seu elenco, que é um dos melhores da DC até então, é bem viável dizer a dinâmica que estes possuem. A maior e melhor delas é entre Pacificador e Vigilante, que nos quadrinhos, se encontraram uma vez ou outra e se tornaram inimigos – mas também se ajudaram. Colocar personagens mais “pé no chão”, e não deuses para salvar o mundo, torna o escapismo do diretor inteligente, não recorrendo ao básico dos filmes de heróis. Assim como o respeito mútuo entre o Pacificador e o Vigilante, Harcourt “respeita” os demais membros, em uma história pessoal de confiança. Mesmo que ela seja um lobo solitário durante grande parte da série, a personagem de Holland sabe se comportar em meio a tanta bagunça. Agee como Economos e Brooks como Adebayo foram grandes surpresas, por se tratarem de personagens menores, mas com motivações de personagens de destaque.
Nos detalhes técnicos, a série sabe ser tão competente quanto elenco e roteiro. Se a direção segura dos diretores da série causou episódios sempre tentando polir a perfeição, os efeitos especiais são os melhores entre os programas da DC. Não há o que discordar no ponto de que manteu o nível de qualidade de O Esquadrão Suicida, tanto m CGI e o bastante uso de efeitos práticos, quanto fotografia e trilha sonora composta por John Murphy. Ao som de Wing Warm, a abertura diverte, e em momentos de ação, o rock dos anos 1980 casa com o carinho da produção na coreografia de luta. Há sangue sendo derramado por todo lado, rostos dilacerados com tiros de escopeta ou braços arrancados com lâminas bem afiadas. Vale destacar Eagly, a águia do Pacificador, que é tão bem feita quanto o Tubarão-Rei – e muito fofo também.
Finalizando uma primeira temporada de forma perfeita, e surpreendendo os fãs com aparições inesperadas, referências e uma história cheia de ação, Pacificador se mantém como um dos melhores projetos do DCEU. Tentando organizar este universo que ainda não se achou, o show de James Gunn alarga seu pequeno espaço, ganha notoriedade, e faz jus ao nome que recebeu. Entre as séries da DC, Pacificador está no topo, dividindo com Stargirl e Superman & Lois, e facilmente entra no rol de melhores séries de heróis dos últimos anos. A segunda temporada promete ser ainda mais louca do que a primeira – Gunn e sua mente insana.
Veredito
Pacificador une o épico ao agradável, e sabe ser uma série segura, com uma história competente e interessante. Tentando manter o universo minimamente coeso, o show criado por James Gunn usa o que tem disponível no mundo real, e se inspira nos quadrinhos para construir uma própria visão do herói. Em uma performance ótima do elenco, especialmente de John Cena como Pacificador e Freddie Stroma no papel de Vigilante, a primeira série do DCEU é a promessa de um futuro glorioso para a DC na TV após o Arrowverse, e uma construção de um universo coerente como os fãs tanto desejam.
9,5/10.
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