
Reprodução: Universal Pictures
Aviso: Crítica sem spoilers!
O resgate do Trash com um quê de anos 80.
À primeira vista, O Urso Do Pó Branco, filme de Elizabeth Banks com roteiro de Jimmy Warden, muito por conta de sua trama exótica – para dizer o mínimo – parece ridículo, e é mesmo. No entanto, é válido ressaltar que o “ridículo” não é, de forma alguma, demérito, pois é justamente a principal peça que compõe o seu tom e, portanto, sua identidade. Dois dos elementos que o filme abraça, sem receio, até o final.
Na trama, livremente inspirada em uma história verídica, embora com mudanças fundamentais, uma operação de contrabando fracassa e um urso negro acaba por ingerir uma absurda quantidade de cocaína, o levando a uma busca para saciar seu novo vício pela reserva florestal, ocasionando em uma matança desenfreada, que acaba sendo morbidamente hilária e divertida.

Como pretexto para a carnificina, somos apresentados a alguns núcleos de história, que acabam se entrelaçando no decorrer do filme. Certos núcleos convencem, tais como o de Sari (Keri Russell), que procura por sua filha perdida Dee Dee (Brooklynn Prince) ao lado do amigo da garota, Henry (Christian Convery) e os dois amigos Daveed (O’Shea Jackson Jr.) e Eddie (Alden Ehrenreich), em busca da bolsa de drogas perdida a mando do traficante Syd (Ray Liotta). Já outros são bobos até para um filme despretensioso, como é o caso da guarda florestal Liz (Margo Martindale) e Peter (Jesse Tyler Ferguson).
Nos minutos iniciais, nota-se que o filme teria um árduo trabalho: inserir o espectador naquela narrativa absurda de maneira convincente, algo que a direção dinâmica de Elizabeth Banks faz com maestria. As cenas, especialmente as sequências de gore, são excepcionalmente excêntricas, estranhamente engraçadas, e por que não, Trash na medida certa, de modo que não só convence, como prende a atenção da audiência do início ao fim. Todavia, o filme não se limita apenas à trasheira, pois, em dados momentos, o urso que dá o título ao filme consegue ser tão assustador quanto implacável, criando sequências tensas genuínas, mas não a ponto de destoar do tom já estabelecido.
O humor do filme é ácido e escatológico, com a violência gratuita se fazendo presente como um elemento central, violência essa que não choca, apenas provoca risadas culposas. No entanto, há certos momentos em que o humor acaba passando do ponto e se esticand mais do que o necessário, ainda que seja funcional na maior parte do tempo.

Para os nostálgicos, o longa carrega consigo uma visível aura oitentista que, intencionalmente ou não, acaba lembrando a produções questionáveis, tais como O Vingador Tóxico”(1984) ou A Bolha Assassina (1988), ou seja, o famigerado “tão ruim que fica bom”. A obra, no entanto, embora comprometida a abraçar a tosqueira, diferente das outras mencionadas, possuí qualidades técnicas notáveis, como o trabalho de CGI do Urso, que ficou acima do esperado para uma produção do gênero.
Um dos pontos mais positivos é o elenco; os atores sabiam exatamente em que tipo de trabalho estavam filmando, portanto, é impossível não pensar em como deve ter sido divertido gravar. Tal coisa é notável pela divertida química entre os atores, destaque para Brooklynn Prince (Dee Dee) e Christian Convery (Henry) e Ray Liotta (Syd). Cada um deles entrega exatamente o que se pede, com atuações muitas vezes caricatas e canastronas, mas que funcionam dentro da proposta estabelecida.
Veredito
No geral, O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear no inglês), é um resgate à tosqueira e um prato cheio para os amantes do Trash. O filme diverte, consegue entreter, intriga e entrega uma experiência despretensiosa e estapafúrdica.
8/10.