
Aviso: Crítica sem spoilers!
“O final de uma era, o começo de tudo.”
Qual é o custo para ter uma família correta onde todos membros da família são perfeitos em seus respectivos papéis? Bem, James Gray te responde com um tapa realista. Ele ainda responde como o tal sonho americano é uma ideia distante.
Gray é um diretor que coloca a carga humana em todas suas obras e mais importante, ele valoriza muito seus atores, pois ele conta suas histórias através dos olhares dos seus personagens, e em Armageddon Time não é diferente. O cineasta constrói sua história a partir das suas memórias íntimas durante a década de 1980, e como os eventos desse ano afetou sua infância e toda sua família.
Acompanhamos o olhar de Banks Repeta (O Telefone Preto) como Paul Graff, uma criança que se sente perdida no meio de tantos acontecimentos. É interessante explorar o olhar infantil, porque vemos através da visão do garoto como esses acontecimentos ocorreram, e mais especificamente como as eleições de 1980 mudou seu cenário de vida. Família Graff é o retrato típico da família que deseja ter o clássico sonho americano e ter uma estrutura de respeito, mas é apenas uma família que sofre por buracos pessoais e está em processo de profunda cura.
Quando uma criança tem um objetivo claro de qual carreira deve seguir, sempre é algum que os pais apoiam ou torcem o nariz para a profissão do filho, e o diretor cria esse elo com o público, porque muita gente teve a experiência de contar para os pais qual carreira ia seguir e receber uma alegria disfarçada de decepção.
Darius Khondji usa sua fotografia como o álbum de fotos envelhecido do James Gray. O uso das cores é tratado como um guia de emoções, quando o Paul está com seu melhor amigo ou com seu avô, as cores são mais vivas e ricas, e quando ele está com sua família, as cores mais frias e cruas. E vale ressaltar que existem falsos momentos de proteção quando a criança está com seus pais.
Gray trabalha dois núcleos pessoais do garoto, a sua amizade com Jonathan Davis (Jaylin Webb) e sua relação com seu avô, interpretado por Anthony Hopkins, que está sensacional como um avô carinhoso e preocupado com o futuro do seu adorável neto. A dinâmica da amizade de Graff e Davis é trabalhada como a diferença de desigualdade social não afeta a amizade desses dois, na verdade, só impulsiona mais essa relação de quase irmãos.
Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada) e Jeremy Strong (Lincoln) trabalham uma relação de carinho, tapas e gritos com seus filhos, e é tão bom ver Hathaway tendo um destaque merecido. Strong trabalha os fragmentos de um pai duro, portanto preocupado com o futuro da família.
James Gray sempre foi um cineasta menos popular do mainstreaming. Porém, se engana quem acha que o Gray é um artista perdido no meio de tantos produtos enlatados. O cinema europeu inspirou fortemente seu estilo de contar histórias, e segue firme nas suas obras.
Armageddon Time encerra o fim de uma era para iniciar uma nova época, onde todos os sonhos podem ser vivos novamente.
Veredito
James Gray ensina que a busca do sonho americano continua sendo uma ideia distante ou talvez uma ideia que não exista.
10/10.