Por que Som da Liberdade é o filme mais polêmico de 2023?

Longa-metragem foi acusado de ser propaganda da extrema-direita.


O filme Som da Liberdade estreou em alguns países e já é considerado o filme mais polêmico de 2023. O longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros, vem sendo acusado de ser uma forte propaganda da extrema-direita.

Deixando filmes para trás na época de lançamento no mês de julho na bilheteria, como Indiana Jones e a Relíquia do Destino ou Missão: Impossível 7, Som da Liberdade começou a chamar muito a atenção do público ao redor do mundo. 

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Do que o filme se trata?

Anunciado como uma história sobre Tim Ballard da vida real, ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna e fundador do grupo anti-tráfico Operation Underground Railroad (OUR), o filme ficou atolado em polêmica sobre as críticas que apresenta representações enganosas de exploração infantil e brincadeiras com teorias conspiratórias de direita associadas ao movimento QAnon.

O movimento QAnon é uma teoria da conspiração da extrema-direita, criada nos Estados Unidos, que alega haver um grupo de pessoas que realiza tráfico sexual infantil. 

A teoria teria surgido no 4chan, publicada por um usuário chamado “Q”, e que dizia ter acesso às fontes oficiais de informações sobre oponentes do ex-presidente Donald Trump, à época que ele estava na presidência dos Estados Unidos.

O longa segue um ex-agente federal embarca em uma perigosa missão para salvar uma menina dos cruéis traficantes de crianças. Com o tempo se esgotando, ele viaja pelas profundezas da selva colombiana, colocando sua vida em risco para libertá-la.

Como o filme surgiu?

Som da Liberdade | Produtor foi alertado por abordar assunto polêmico em  filme - Blog Hiperion

Alejandro Gómez Monteverde, diretor do filme, iniciou o projeto em 2015, poucos anos antes da criação do movimento conspiracionista. O cineasta disse ter se sentido inspirado, após ter visto notícias sobre o combate ao tráfico sexual infantil no mundo. Com a inspiração, Monteverde começou a roteirizar a obra, que inicialmente era intitulada de Mogul e seria uma história puramente ficcional.

No entanto, depois que o produtor do filme, Eduardo Verástegui, conheceu Tim Ballard, o projeto passou a se concentrar no tempo que Ballard passou destacado como agente secreto da Equipe de Turismo Sexual Infantil dos EUA, enquanto designado para a Força-Tarefa de Crimes na Internet Contra Crianças da Segurança Interna por mais de uma década antes de 2013.

“Tudo o que eu queria era apresentar uma pergunta sobre o problema: tráfico de pessoas, tráfico de crianças, exploração sexual infantil. Quão grave é o problema. Filmamos em 2018. Em 2019, era um filme completamente finalizado”, disse Monteverde.

O produtor foi responsável por reunir investidores que aplicaram US$ 14,5 milhões em financiamento para o filme. Mas, mesmo com alguns “patrocinadores”, nenhum grande estúdio parecia querer manter o projeto por perto.

Inicialmente, a Fox Latin America iria distribuir o filme para o circuito de cinema. No entanto, após a Disney ter adquirido a Fox, o projeto ficou na geladeira. Supostamente, a Disney acabou se recusando em lançar Som da Liberdade, mas liberou que o cineasta pudesse recomprar os direitos de exibição. 

Mesmo com adiamentos por conta da pandemia e nenhum fechamento de negócios com estúdios e streamings, a Angel Studios adquiriu os direitos do filme em março deste ano.

Quem é Tim Ballard?

Tim Ballard says he's 'in good standing' with church following rare public  rebuke | KUTV

O ativista Tim Ballard, fundador da Operation Underground Railroad (OUR), trabalhou para a CIA e depois como agente especial no Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos. Ele fundou a OUR somente em 2013, visando resgatar vítimas do tráfico humano.

Porém, mesmo com uma nobre ideia de uma organização, Ballard acabou sendo acusado por promover a teoria da conspiração QAnon em 2020. Isso foi desmentido pelo próprio somente em julho deste ano, com o lançamento de Som da Liberdade nos Estados Unidos. 

Numa entrevista com o apresentador canadense Jordan Peterson no mesmo mês, Ballard afirmou ter invadido uma fábrica de bebês na África Ocidental, onde crianças eram vendidas para extração de órgãos e abuso em rituais satânicos. Ele deixou a organização que fundou logo depois.

Importunação sexual na OUR

A situação do ativista se agravou nesta semana, quando sete mulheres o acusaram de improbidade sexual. Ele teria se comportado inadequadamente com essas mulheres em missões da OUR.

Segundo o artigo publicado pelo site Vice, Ballard teria dito para elas agirem como sua “esposa”, para manter as aparências com os traficantes. Ele teria coagido as mulheres a tomarem banho e dormirem com ele. O ativista ainda chegou a mandar uma foto íntima para uma das apoiadoras, com a frase: “até onde você iria para salvar uma criança?”

Acredita-se que o número total de mulheres envolvidas seja maior, pois isso representaria apenas funcionários, não contratados ou voluntários. Uma fonte tem conhecimento de que Ballard realiza investidas sexuais inapropriadas, com condutas que não são aceitas pelas normas da organização que ele criou.

“A OUR dedica-se a combater o abuso sexual e não tolera assédio sexual ou discriminação por parte de qualquer pessoa da sua organização. A OUR contratou um escritório de advocacia independente para conduzir uma investigação abrangente de todas as alegações relevantes, e a OUR continua a avaliar e melhorar a governança da organização e os protocolos para suas operações”, disse um porta-voz da OUR.

Essas informações corroboram com a carta que circula em Utah, nos Estados Unidos, sobre Ballard ter sido acusado de assédio sexual. Segundo a carta, ele “tem preparado e manipulado de forma enganosa e extensiva várias mulheres nos últimos anos, com a intenção final de coagi-las a participar de atos sexuais com ele”.

A polêmica em torno do filme

Grande parte da controvérsia em torno de Som da Liberdade vem do ator Jim Caviezel e Ballard, que apoiaram abertamente o QAnon. Caviezel deu discursos e entrevistas promovendo a teoria da conspiração, que alega que políticos democratas de alto escalão estão sequestrando crianças, as estuprando e colhendo adenocrono químico do seu sangue para consumir como elixir da juventude.

Essa teoria possui raízes antissemitas, e já foi desmascarada inúmeras vezes pelos meios de comunicação e pelas comunidades científicas, conforme aponta a Time.

Por se esgueirar nessa teoria, o filme vem sofrendo duras críticas por essa parte dos bastidores, embora diversos especialistas relatem que o produto final é totalmente diferente.

Som da Liberdade estreia hoje nos cinemas brasileiros. 

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Gabriel Rodrigues Silveira http://critical-room.com/

Navego pelas águas misteriosas deste belo mundo do cinema, e procuro estabelecer todo o conteúdo possível, e mostrar os gostos de um jovem jornalista aspirante a cinéfilo. Mas, se perder a confiança em mim, confie nos outros integrantes do site.

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