
A loucura de Frank começou muito antes da morte de sua família.
Era lançada em fevereiro de 1974, a edição 129 da revista The Amazing Spider-Man, com roteiro de Gerry Conway e desenhos de John Romita e Ross Andru. Essa edição introduziu um dos personagens mais polêmicos da Marvel, o Justiceiro.
Mesmo sendo um dos “mocinhos”, esse personagem fazia na época algo que quase nenhum herói fazia: matar os bandidos. Além disso, o visual de Frank Castle não deixa que seus inimigos esqueçam que ele é a própria morte encarnada no corpo de um mero mortal que é movido pelo ódio contra o crime, afinal de contas, o crime tirou sua família, e por isso que ele faz o que faz.
Mas será que é isso mesmo? Frank realmente era uma pessoa sã antes da morte de sua família? Bem, talvez não, e uma HQ que mostra isso é Justiceiro: Nascido Para Matar, escrita por Garth Ennis e com desenhos de Darick Robertson. Publicada em 2003, essa minissérie mostra o fim da participação de Frank na guerra do Vietnã.
Nascido Para Matar mostra o quão cruel esse conflito foi para todos os combatentes envolvidos nela, o medo constante da morte e a vontade incontrolável de voltar para casa e voltar a viver o chamado “sonho americano”. Mas o capitão Frank Castle não pensa da mesma forma, ele não gosta daquele lugar, mas seu instinto assassino anseia por cada vez mais sangue, como se matar fosse um vício e o único lugar que pode dar o que ele quer é o Vietnã.
Frank chega até a matar um superior que iria fechar a base de Valley Forge, somente para que sua guerra não chegasse ao fim. Mas algo que também fica evidente é o nojo que ele sente por atos ilícitos, como o estupro, já que em uma das passagens da HQ, o grupo captura uma Vietnamita, e os soldados então se reúnem para abusar sexualmente dela. Porém Frank mata ela antes disso e depois mata o soldado que estava em cima dela.
Um tempo depois, a base de Valley Forge sofre um ataque massivo e Frank finalmente abraça o seu lado psicopata e dizima vários soldados inimigos sozinho. Naquele momento a guerra do Vietnã havia acabado para Frank, mas uma outra estava prestes a começar, já que pouco tempo depois sua família foi assassinada por um bando de mafiosos no Central Park.
Bem, depois dessa contextualização chegou a hora de falar sobre a psique de Frank, ele não gostava do ambiente da guerra, mas sim, do que tinha que fazer nela. Claro que ele gostava de matar, ele ficou viciado naquilo e era extremamente bom no que fazia, mas quando o conflito no Vietnã acabou, Frank precisava urgentemente de algo para ocupar esse vazio, e a morte de sua família foi o motivo que ele encontrou para iniciar sua própria guerra.
Claro que dizer que a guerra não afetou seu psicológico é mentira. Tanto tempo exposto naquele lugar horrível, tendo que fazer coisas horríveis acabou despertando o lado mais selvagem de Frank Castle. Foi esse lado que salvou sua vida no Vietnã e foi esse lado que o transformou no Justiceiro, mesmo antes dele adotar esse nome.
Como Justiceiro, Frank mata qualquer tipo de bandido, esse no caso foram os inimigos que ele selecionou para sua guerra pessoal, se não fosse a escória da sociedade (como ele mesmo se refere a eles) provavelmente ele teria escolhido outros alvos e talvez tivesse se tornado um vilão matador de heróis. Mas felizmente isso não aconteceu, já que a figura de Frank como um dos primeiros anti-heróis da história dos quadrinhos é algo que está marcado na história da indústria e é isso que torna esse personagem tão interessante, porque Frank está literalmente lutando contra uma Hydra, não importa quantas cabeças ele corte, outra sempre irá crescer no lugar. No entanto ele não se importa, já que quanto mais cabeças crescerem, melhor para ele, pois assim a guerra não acaba e o prazer que ele sente ao matar também não.