
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge é a filosofia da psiquê de um herói e sua cidade.
O dia 27 de julho de 2012 era a grande data do ano para os filmes de heróis e o ressurgimento do Batman nos cinemas mais uma vez. Christopher Nolan assinava seu nome na DC Comics e nos filmes de super-heróis para sempre. Decidido em fazer uma trilogia desde Batman Begins, o diretor estava com todos os créditos e fama, após o enorme sucesso de Batman: O Cavaleiro das Trevas, que foi o primeiro filme de herói a bater o bilhão. Seguindo o sucesso também de A Origem, escalando um elenco de peso, Nolan reutiliza Tom Hardy para o papel de Bane, Marion Cotillard para ser Miranda Tate e Joseph Gordon-Levitt como Blake. Mas, qual a mensagem que Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge quer passar para o público?
É uma pergunta que pode conter várias respostas se o filme for analisado minuciosamente, mas não é preciso ser um “expert” para conseguir entender. Nolan, junto com Jonathan Nolan e David S. Goyer, queriam construir um universo mais realístico em que o Batman fizesse sentido, num mundo tão real quanto vivemos. Posto isso em Begins e em O Cavaleiro das Trevas, não foi diferente no terceiro filme, que aprofundou ainda mais na mente de Bruce, conseguindo puxar o que não foi explorado em Batman Begins. Para expurgar o mal do mundo, você deve começar pela raiz. Era assim que o Ra’s Al Ghul pensava, e de certa forma ele tem razão, porém não aplica o plano como deveria.
São tantas lições ensinadas por Ra’s que ainda ecoam para O Cavaleiro das Trevas Ressurge, que moldam toda a trama do filme em torno de uma palavra: medo. Gotham tinha medo do que pudesse acontecer com a cidade após os ataques do Coringa, e a consequência que veio com a morte de Harvey Dent. Um Batman inexistente e que está aposentado, vivendo em sua solidão imensa na Mansão Wayne. E a solidão é uma das abordagens de Nolan no filme, que explora ainda mais o sentimento de angústia e perdas de Bruce ao longo dos anos. O diretor se aprofunda cada vez mais na psicologia de um herói quebrado com as consequências de sua cruzada solitária para combater o crime, numa cidade que o crime é quase imparável.
Mas, mesmo em sua solidão, a figura paterna de Alfred faz Bruce voltar para a realidade e refletir sobre assuntos que poderiam acontecer num futuro não distante. Um dos pontos fortes de toda a trilogia, foi a relação entre o mordomo fiel e o órfão amargurado. Alfred sempre está ao lado quando Wayne necessita. Não como só um simples mordomo, mas como um amigo, o qual Bruce jamais poderia substituir.
O roteiro consegue muito bem puxar momentos de ambos os personagens em Batman Begins para o terceiro filme. Até mesmo, com Thomas Wayne e a queda de Bruce no poço. Quando garoto, o poço seria futuramente sua prisão, a qual talvez nunca pudesse mais sair. No entanto, Thomas e Alfred o ensinam que “caímos para aprendermos a nos levantar”. O herói que se viu no fundo do poço duas vezes, ressurge das cinzas, dando um salto de fé, com medo de perder mais uma vez.

Nolan molda todo um universo realista do Batman, sem esquecer os quadrinhos, fazendo deles, de suma importância para a construção do personagem, ascensão, queda e ressurgimento. Paralelamente à Alfred, Gordon, Blake e Lucius são aliados indispensáveis para Bruce. Com os policiais, há o lema do tira bom e do tira mau. Eles estão do lado da lei, mas o Batman, mesmo estando do lado, faz com que o crime acabe pelos meios necessários que tem, equilibrando o certo e a lei. Isso torna o Batman de Christopher Nolan e Christian Bale especial, fazendo com que a ficção caminhe lado a lado com a realidade nos filmes.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge não é um simples filme de super-herói, que faz o herói prender o vilão e repetir a mesma ação sempre. É a filosofia de um herói com sua cidade, sendo a alma no coração pulsante de Gotham. O desolamento de Gotham, a guerra travada,a queda de um herói, as perdas e depois o ressurgimento, faz todo o roteiro trabalhar em prol de uma única palavra: ressurge. A única palavra que molda todo o filme. A obra quer mostrar que, persistindo, todos podem vencer seus medos e ressurgir do abismo.
O legado deixado, tanto por Bale quanto por Nolan, contribuiu muito para a visão do herói posteriormente em quadrinhos e jogos. O diretor conseguiu muito bem mergulhar na mente humana, inserindo o Batman numa sociedade que pode ser tão horrível quanto pensamos. O Cavaleiro das Trevas Ressurge consegue trabalhar com todos os sentimentos e emoções do Batman, lidando com perdas passadas e presentes, e também com a seu próprio estado físico, pois sabia que não voltaria a ser o mesmo de antes, que agia rapidamente. Um herói, que sentiu na pele o que é ser humano, e que podia ser destruído e ignorado. Mas, como símbolo, o Batman foi incorruptível… foi eterno.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge fecha uma trilogia de forma magistral, sendo um filme que não poderia dar um desfecho melhor para um herói. Pela primeira vez, Bruce Wayne está em paz e feliz, fazendo o sonho e o desejo de Alfred virar realidade.