
Reprodução: Sony
Aviso: Crítica sem spoilers!
Uma adaptação que só se parece com Uncharted no final.
Após anos de espera, Uncharted recebeu uma adaptação pela Sony, trazendo o aventureiro Nathan Drake para os cinemas pela primeira vez. O famoso jogo da Naughty Dog, que acompanhou Nate, Sully e Elena em quatro games, e depois Chloe em um spin-off, possui uma legião de fãs assim como Indiana Jones. E Uncharted – Fora do Mapa tenta emular o mesmo que o jogo, querendo fazer uma adaptação fiel, mas que ao mesmo tempo, inove e traga novos horizontes.
Dificilmente, há pessoas que não conhecem Indiana Jones. E se conhecem o maior dos caçadores de tesouros, também sabem da existência de Nathan Drake. Diferentemente do Dr. Jones, um professor de arqueologia, Nate conhece muito de história, e não trabalha com isso. A franquia de jogos estabeleceu um protagonista carismático, dublado por Nolan North, a voz do Superman em várias animações. E não apenas um protagonista engraçado e divertido, mas personagens interessantes, amáveis, e vilões bons com reais motivações: sucesso, grandeza e vontade de ter o poder.
O filme não é muito diferente de trazer as palavras finais do parágrafo anterior. Há muito vontade de ter o poder em mãos tão fúteis, e realmente, mesquinhas. Uncharted – Fora do Mapa – subtítulo interessante, aliás, pois realmente faz sentido -, é aquele filme de aventura, mas um pouco mais absurdo do que tudo, e até mais do que os games. Trazendo Tom Holland como Nate e Mark Wahlberg no papel de Victor Sullivan ou Sully, o longa-metragem mostra a origem do personagem, algo não abordado nos jogos, exceto por flashbacks. É um ponto de partida certeiro, para uma criação de uma potencial franquia, que tem futuro, mas precisa melhorar em muitos pontos, inclusive no roteiro.
Com Sully atrás do ouro jamais encontrado de Fernão de Magalhães, o trapaceiro – sem bigode -, recruta Nathan, um jovem barman. Nate continua atrás de seu irmão, Sam, após serem separados no orfanato – uma clara referência ao quarto jogo. A primeira leva de 10 minutos trabalha bem a questão do passado dos Drakes, e explora um futuro filme com o possível título “Uncharted 2: A Fortuna de Drake”. No entanto, as primeiras sequências de ação começam transportando o espectador para dois jogos, e de forma bem natural. O filme começa como Uncharted 2, perto da parte final, e logo explora a origem de Nate como em Uncharted 4. É um acerto sem tamanho do diretor Ruben Fleischer.
Mas, o deslize está logo no primeiro ato. Após contar um pouco da juventude de Nate com seu irmão, o problema se faz em como ele se junta ao Sully. Até tudo acontecer, não é nada parecido com Uncharted, e as coisas continuam acontecendo devagar. O filme faz referência aos quatro jogos, sem dúvidas, e vai dar alegria aos fãs dos games, mas que sentirão algo faltando. E justamente o que falta é: ser mais Uncharted ao longo do tempo de quase 2 horas.
O acerto está quando o filme começa a se abrir com a ideia de que precisa trabalhar com enigmas, investigação e truques, algo muito constante nos jogos. Há um enredo interessante, que gira em torno do vilão vivido por Antonio Banderas, mas pessimamente aproveitado. Por sua vez, Braddock (Tati Gabrielle), assume o grande posto de antagonista. Há algo bem Uncharted 3/4 neste filme, trazendo a questão dos vilões, que não são bem desenvolvidos, e possuem arcos imemoráveis.
A escolha de elenco não é nada característico aos jogos, e dão um novo teor para a dupla Nate e Sully. Não há aquela dinâmica tão fluida como no primeiro game, apesar de possuírem um certo carisma. Sophia Taylor Ali como Chloe Frazer é quem consegue mais se assemelhar com a personagem, apesar de vários elementos serem esquecidos. Por sua vez, o elenco é minimamente chamativo, mas havia escolhas melhores para os protagonistas. Nathan Fillion, do curta-metragem que funciona como um fan film, por exemplo, seria melhor que Holland.
Além disso, há uma falta de identidade para o filme, que não possui uma boa fluidez em suas cenas de ação, e tendo de recorrer ao carisma de Holland. Uncharted é construído com história, cenas de ação e muito parkour – este último não faltou, mas pode melhorar. Entretanto, o uso dos efeitos práticos e especiais caem como uma luva no filme. Mas, ainda falta aquela troca de tiros simbólica, que acontece apenas no último ato, nos momentos finais.
Seguro, mas uma adaptação que só se parece com o jogo no final, Uncharted – Fora do Mapa diverte, aquece o coração dos fãs, mas é preciso repensar em sua abordagem. Tornar uma franquia global, para que pessoas que não jogaram o game, é uma ótima ideia, mas não deve esquecer de suas raízes.
Veredito
Uncharted – Fora do Mapa é uma aventura leve, sem trazer muito a violência dos jogos. Com diversas referências que vão encher os olhos dos fãs, o longa-metragem aposta em nomes como Tom Holland e Mark Wahlberg, que acabam descaracterizando seus protagonistas em um dinamismo impotente. Mas, caso a Sony, dado a cena pós-créditos, queira montar uma franquia, há muito potencial para ser explorar no futuro.
6/10.