Aviso: Crítica sem spoilers!
Christopher Nolan em sua zona de conforto.
Em Dunkirk, Christopher Nolan propõe uma experiência sensorial com base nas imagens e, principalmente, pelo som. Em Tenet, ele procura o mesmo efeito, pois existe uma relação direta com a imagem e com a ação. “Não tente compreender. Sinta”, diz a personagem de Clémence Poésy, num comentário bem revelador acerca do próprio filme. Porém, o sensorial é anulado quando o diretor freia a ação para dar sucessivas explicações de como e quando os personagens devem agir. As cenas de ação são boas, elas impressionam e envolvem. O longa investe na força de suas imagens. Mas essa experiência mais direta é prejudicada pelos inúmeros intervalos que cortam a ação para que os personagens expliquem as coisas uns para os outros. É como se, em Dunkirk, os soldados parassem de minuto em minuto para enunciarem o próximo passo, quebrando, assim, o frenesi das situações – o que não ocorre, porque o filme de guerra do Nolan abrange o suspense numa ação desenfreada.
Particularmente, os diálogos expositivos nunca foram algo que chegasse a definir minha experiência com os filmes do diretor, pois sempre assimilei como uma solução precisa para as estórias que exigissem mais informações. Em A Origem, os diálogos, sim, explicam ao espectador as regras dos sonhos, do limbo e afins, mas, além de ser algo natural – em estórias de fantasia, é essencial uma base de regras que regem aquele universo –, eles são aplicados, em suma, no primeiro ato, justamente quando o filme se apresenta para o espectador. E, a partir de quando se inicia a missão de Cobb (Leo DiCaprio) nos sonhos de Fischer (Cillian Murphy), a ação é ininterrupta, sem pausas ou intervalos que pudessem prejudicar o ritmo do longa.
Não acho que Tenet quer chegar nessa dinâmica didática, pois seus diálogos mais confundem quem o assiste que qualquer coisa. Parece mesmo que o realizador usa o diálogo como uma espécie de resposta ao seu próprio cinema. Não é algo inédito, inclusive: o fato de Dunkirk ter poucos diálogos parece responder às críticas à forma expositiva do diretor.
Os personagens falam rápido. As conversas se atropelam. O diretor parece não querer que os diálogos se façam entender. É uma ironia àqueles que o definem como didático e pedagógico. É irônico, mas nada além disso. Pois, aqui, Nolan não dá um passo adiante em relação ao seu cinema. É um exercício vazio de auto-homenagem. Não é o Nolan sentimental de Interestelar. Nem o Nolan revisionista de Dunkirk. É um Nolan na sua zona de conforto.
Veredito
Tenet possui excelentes cenas de ação, mas acaba sendo arruinado pelas decisões questionáveis de seu autor, que procurou não encontrar novas soluções e ideias para o seu cinema, mas apenas reafirmar o estilo de seus filmes, sem algo além disso – o que é pouco para um diretor que provou seu enorme talento por diversas vezes.
5/10.
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